quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Urandir faz acordo com seres extraterrestres


Aos seus vinte e nove anos, mais uma vez os seres propuseram a Urandir tarefas especiais, relativas à seu futuro compromisso. Ainda indeciso, Urandir mostrou-se renitente e inflexível, irritado com suas exigentes proposições. Aquilo tudo lhe parecia uma loucura e lhe representava um oceano de sofrimentos, face ao incomum comprometimento com a tarefa. Ante sua resistência, os seres retornariam dentro de dois meses para lhe formular a última proposta. Eles têm sido generosos em suas promessas com o discípulo, nem tão prontos em cumpri-las.Mas para Urandir essa espera é mais um teste que permeia as promessas e o cumprimento delas.
Prostração
Face às mil e uma dificuldades, era visível o abatimento de Urandir. Tudo concorria para que vivesse um inferno astral. Cabisbaixo e tristonho, fê-lo persistir em experimentar o amargor do cálice. O embevecimento pela missão ia-se esvaindo paulatinamente e a pasmaceira aumentava.O espectro dessa carga de inanição nervosa, entretanto, não significaria para Urandir insegurança. Fora acometido de tristeza, não de depressão.Enquanto esta é uma patologia - onde, além de falta de carinho, sentimentos de abandono e isolamento poderão abrir caminho para doenças -, cujos principais sintomas são uma auto-atribuição de incapacidade e um sentimento de inferioridade quando o indivíduo se compara com os outros, aquela consiste numa reação comum da vida. A depressão, um dos maiores flagelos que assola a era moderna, é uma desordem multifatorial, com muitas origens e diversas apresentações. A patologia acompanha a humanidade desde seus primórdios, sendo ainda hoje frequente em qualquer idade.O homem é energia e consciência em constante processo de transformação, desenvolvimento e evolução. Comumente, nada lhe é dado de graça. A dor pode servir-lhe de caminho para evoluir. Nem sempre o é. E, por certo, jamais será o único.Quem está feliz hoje, poderá não estar amanhã. Há que se ter o cuidado de não cair quando se está de pé. Escreveu alguém, e apenas aqui se repete, à guisa de reflexão: Quando a gente pensa que sabe todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.
Sopesando a responsabilidade do Compromisso
Urandir não foge à regra. Pelo contrário. Agora, mais uma vez, se encontra fustigado pelo estigma
do sofrimento.Eles me pegaram direitinho - relembra ainda hoje, refe-rindo-se aos seres.Findo o prazo de dois meses que haviam estabelecido, estes retornaram. Voltaram para saber dele, definitivamente, se aceita comprometer-se com a missão. Esta não lhe seria imposta como se fora um instrumento imperial, embora a liberdade humana (inclusive a de escolha) seja sempre um conjunto de liberdades. Manifesta-se pelo consentimento. A propósito, o imortal estadista norte-americano, Abraham Lincoln, se expressa com acerto quando escreve: Ninguém é bastante competente para governar outra pessoa sem o seu consentimento.Essa sintomática insistência dos seres pode ser compreendida como uma convocação. A insistência pesou, não que definisse a decisão de Urandir. Não resta dúvida que ela tenha interferido. Nesse aspecto, sua falta de unanimidade nunca foi demérito: sempre teve capacidade de indignação.Na medida em que o tempo passasse, sua posição se firmaria. Consciente de que nenhuma escolha na vida é gratuita e destituída de responsabilidade, a insistência dos mestres persistia em mexer no seu íntimo. Seu calvário se tornava mais amargo a cada dia e o espaço para argumentar sempre mais limitado. O constrangimento favorecia, por vezes, sua indefinição. O cenário todo, porém, levava a crer que bater o martelo era apenas uma questão de curto tempo.
O comprometimento com o seu compromisso
Esgotadas todas as suas razões, chegou a hora da opção.Entre tenaz e temeroso, mas resoluto e consciente, Urandir, homem maduro que procede consultando apenas sua consciência, entendendo a vocação, aderiu ao chamamento. A palavra, sua prisioneira, o faria prisioneiro dela.E, em acedendo ao derradeiro convite dos seres-mes-tres, o discípulo foi económico nas palavras:Tudo bem!Urandir anuiu, finalmente, ao convite dos seres. Mas como ninguém vive aliado sem recompensa, acrescentou de pronto, interrogativo e resoluto:Mas..., e qual vai ser a minha garantia?E responderam-lhe com esta outra afiançada indagação:Do que você precisa?...E perfeitamente crível que os seres extraterrestres foram afirmativos em interrogá-lo. A garantia de eles lhe prestarem assistência amenizou o grau de resistência de seu comprometimento com o (en)cargo. Sem pretextar mais...Aí, recolhendo os flaps, passou a voar mais baixo, sem que estivesse precisando de um choque de humildade. A vida humana, na verdade, se faz com decisões e sua história se narra na tecedura dos acontecimentos.Na expectativa de que a confiança que os seres nele depositaram ao perguntá-lo de que precisava, acedendo ao insistente pedido deles, asseverou firme:Aceito o trabalho, realizá-lo-ei totalmente!Estaria ele desconectado da realidade? Seria defensor de uma causa perdida e conivente com ela?Seu coração batia forte. Era o momento exato de colocar os pingos nos is. Por isso, antes de firmar o gigantesco compromisso, condicionou assumi-lo ao pronto cumprimento das promessas, dizendo:(...) mas sob uma condição. Vocês terão que me aparecer de forma física.Trata-se de um acordo bilateral, claro, não formalizado. (Tal tipo de condicionamento encontra amparo no princípio jurídico: Da ut des, i. e. dá, para que dês - traduzido literalmente.)Urandir pediu (leia-se exigiu) aos seres, de forma taxativa e incondicional, sua presença física (o grifo é nosso), co-brando-lhes as garantias anteriores. Referindo-se ao contrato firmado com os seres, ainda hoje recorda:E ficou estabelecido que sempre que fosse necessário provar para uma ou mais pessoas a existência dos seres, eles se manifestariam de alguma forma, para dar respaldo ao meu trabalho. E isso ocorre regularmente.
O objeto da exigência
Essa exigência (a terceira, na ordem cronológica) prova, decididamente, o grau de sua audácia.Nada, absolutamente nada toleraria que pudesse vir a denotar sua fragilidade na comprovação da veracidade dos fatos. Acaso, lançaria mão de artifícios ardilosos que pudessem vir, algum dia, a denegrir sua imagem? Seria passível de comprovação o fenómeno sobre o qual pairasse sombra de dúvida como sendo, por exemplo, fruto da imaginação, do astral ou de telepatia?Com disposição firme de livrar-se da situação movediça, Urandir reforçou a cláusula condicional - motivada pelo conectivo 'mas' em (...) mas sob uma condição - para assumir a gigantesca tarefa, pedindo aos seres sua presença física, de alguma forma, em toda atividade missionária ulterior. Entre os trabalhos enumerou seminários, palestras, atividades de campo e reuniões em geral. Também exigiu (sic!) deles compensações e impôs-lhes condições, visando sobretudo ao valor moral de sua conduta ante o público. Sua meta de inocular na humanidade os vírus do sentimento do bem-estar e da evolução da consciência terá de ser alcançada. Efetivamente, não basta ser importante apenas o que se diz, senão também quem o diz, porque é a verdade da autoridade que robustece a autoridade da verdade.
texto publicado na obra "Andarilhos do Universo" onde Urandir é co-autor